Jul 23, 2025
Plano de Resposta a Incidentes
Não importa quão seguro seja o seu protocolo Web3 ou quantas auditorias de segurança ele tenha sido submetido, apenas um documento realmente separa os projetos que levam a segurança a sério daqueles que não o fazem: um Plano de Resposta a Incidentes.
Um Plano de Resposta a Incidentes é um conjunto de instruções e scripts pré-preparados para seguir em caso de um incidente de segurança do protocolo. Quando tal evento ocorre, ter um plano de ação claro reduz o estresse e economiza um tempo precioso durante e imediatamente após um hack.
O objetivo de um Plano de Resposta a Incidentes é garantir uma ação eficaz em resposta a um hack e minimizar os danos potenciais.
Abaixo, exploraremos os elementos essenciais que devem ser incluídos em um Plano de Resposta a Incidentes de alta qualidade.
Definição de Escopo
Em primeiro lugar, seu Plano de Resposta a Incidentes deve catalogar os elementos-chave do seu protocolo. Isso inclui contratos inteligentes críticos, dependências de oráculos, contratos de governança, endereços de tesouraria e infraestrutura de frontend e backend.
A descrição deve destacar as áreas sensíveis à segurança e os potenciais vetores de ataque. Essa visão geral detalhada o ajudará a evitar a negligência de aspectos cruciais do protocolo durante um hack, especialmente quando o estresse é alto e o foco é vital para uma resposta eficaz.
Um bom ponto de partida para esta seção é o documento gerado durante a fase de Modelagem de Ameaças. Utilize o Roteiro de Segurança Web3 para uma abordagem abrangente no desenvolvimento do seu plano de resposta.
Funções
Um Plano de Resposta a Incidentes exige a formação de uma Equipe de Resposta a Incidentes de Segurança de Computadores (CSIRT). O plano não especifica a composição quantitativa da equipe, mas descreve três funções principais que devem ser preenchidas durante uma resposta.
Gerente Estratégico
Esta função lidera o processo de resposta a incidentes. O Gerente Estratégico se concentra em orquestrar as ações da equipe, incluindo a coordenação com os tomadores de decisão para obter aprovação para ações que exigem o consentimento das partes interessadas. Essas ações geralmente incluem a migração de fundos, o lançamento de versões corrigidas ou a negociação de termos com os atacantes.
Gerente Técnico
O Gerente Técnico supervisiona todos os processos diretamente relacionados aos aspectos técnicos. Isso inclui a análise de vulnerabilidades de código, o desenvolvimento de correções, o início de transações e a interação com especialistas em segurança externos. O Gerente Técnico pode realizar essas ações pessoalmente ou atuar como coordenador para seus subordinados.
Gerente de Comunicação
O Gerente de Comunicação é o único ponto de contato entre a equipe do protocolo e a comunidade externa. Ele gerencia o fluxo de informações para os usuários, incluindo seu conteúdo e tempo. O Gerente de Comunicação pode delegar tarefas relacionadas à publicação direta e ao processamento de feedback a seus subordinados.
Durante as simulações de incidentes, é benéfico envolver pequenas equipes com o número mínimo de pessoas necessárias para cobrir essas funções essenciais. Cada nova simulação deve envolver membros da equipe que ainda não participaram do exercício. Essa abordagem garante que, durante um incidente real, uma parte maior de sua equipe estará preparada para lidar com uma ampla gama de tarefas dentro da equipe de resposta.
Especialistas Externos
Uma boa prática para proteger um projeto Web3 é ter um acordo preexistente com especialistas externos em investigações de incidentes de blockchain. Tais arranjos evitarão que você perca tempo crítico procurando especialistas para ajudar sua equipe. Especialistas externos podem ajudá-lo a identificar a causa do hack e fornecer uma plataforma para rastrear fundos roubados.
As evidências coletadas e os rastros de lavagem de dinheiro são essenciais para registrar um boletim de ocorrência junto às autoridades para iniciar processos legais contra os hackers.
O ato de registrar um caso e iniciar uma investigação é um forte argumento durante as negociações com os atacantes, visando persuadi-los a devolver a maior parte dos ativos roubados em troca da retirada das acusações e de uma recompensa de 10%.
Um procedimento pré-preparado e bem ensaiado para registrar um boletim de ocorrência junto às autoridades também é parte integrante de um Plano de Resposta a Incidentes robusto.
Sala de Guerra
O Plano de Resposta a Incidentes deve incluir um protocolo claro para ativar uma Sala de Guerra. Este protocolo deve detalhar o algoritmo para estabelecer um canal de comunicação entre os membros da equipe de resposta a incidentes e especialistas externos. Este canal pode ser um chat seguro ou uma videoconferência.
Como as informações divulgadas nesta sala podem ser sensíveis, o protocolo deve incluir termos de interação pré-estabelecidos, como Acordos de Não Divulgação (NDAs) ou regras para a divulgação de informações a especialistas externos.
Comunicações
Esta seção fornece diretrizes detalhadas para o estabelecimento de canais de comunicação internos e externos.
As diretrizes de comunicação interna devem cobrir as ferramentas utilizadas para a comunicação dentro da equipe de resposta, seus administradores e os níveis de acesso para diferentes membros da equipe.
As diretrizes de comunicação externa descrevem o formato das atualizações públicas sobre o progresso do incidente. Isso inclui a especificação dos canais utilizados e a identificação da parte responsável (o Gerente de Comunicação).
Manual de Ações (Playbook)
O manual de resposta a incidentes contém passos específicos e práticos que a equipe toma em resposta a um ataque. Enquanto outras seções do Plano de Resposta a Incidentes fornecem informações descritivas, o manual deve ser visto como um algoritmo estrito.
O manual descreve um conjunto de ações divididas em três grupos, com ações de cada grupo destinadas a serem realizadas em paralelo.
As ações no manual devem ser claras, concisas e ensaiadas. Qualquer discussão sobre nuances de execução deve ser estritamente evitada para garantir uma implementação oportuna.
Conter e Mitigar Danos
Este grupo inclui ações que visam parar o ataque e minimizar os danos.
Pausar contratos inteligentes
Bloquear funcionalidades de frontend
Colocar endereços de atacantes na lista negra
Rotacionar chaves
Outras ações que visam impedir a saída de fundos roubados
Essas ações devem ser automatizadas o máximo possível, e sua ativação não deve ser impedida pela burocracia.
Remediação
As ações no grupo de Remediação se concentram em identificar e corrigir a vulnerabilidade que levou ao hack.
Identificar a causa raiz (vulnerabilidade central)
Desenvolver uma correção
Garantir sua viabilidade
Migrar para uma nova versão
Restaurar o acesso do usuário à funcionalidade do protocolo
Este grupo de ações exige o envolvimento de especialistas em segurança, sejam internos ou externos.
Ao realizar ações neste grupo, é crucial equilibrar velocidade e confiabilidade. Embora seja vital detectar e corrigir a vulnerabilidade o mais cedo possível, é igualmente importante não restaurar o acesso apressadamente com uma correção não verificada.
Recuperação de Fundos
As ações deste grupo visam recuperar os fundos roubados.
Negociar com os atacantes para a devolução dos ativos roubados em troca de uma recompensa e da retirada das acusações
Envolver hackers éticos para interceptar fundos roubados
Essas ações devem ser preparadas e ensaiadas com antecedência para economizar tempo quando necessário.
Lições Aprendidas
A fase final da resposta a incidentes é a análise do próprio incidente e da resposta a ele. Os dados coletados durante a investigação das causas do hack, bem como uma retrospectiva do processo de resposta, têm um valor significativo para melhorar tanto a segurança do protocolo quanto o próprio processo de resposta.
O documento de Lições Aprendidas deve conter um detalhamento minucioso das causas do incidente, uma descrição passo a passo do procedimento de hack e um relatório sobre a eficácia do processo de resposta. O documento deve responder às seguintes perguntas:
Por que o erro apareceu no código?
Por que o erro não foi identificado durante o desenvolvimento e os testes?
Por que a auditoria não detectou o erro?
Por que o sistema de monitoramento não disparou um alarme antes?
As respostas a essas perguntas, juntamente com uma descrição detalhada do ataque divulgada publicamente, ajudam outros protocolos a se defenderem contra ataques semelhantes. Relatórios transparentes "post-mortem" contribuem para a base de conhecimento geral de segurança em soluções descentralizadas.
Treinamento
O Plano de Resposta a Incidentes deve ser usado regularmente em simulações e exercícios de treinamento. Um plano bem desenvolvido sem o treinamento prático adequado da equipe se mostrará ineficaz. Exercícios regulares e "Jogos de Guerra" ajudam a equipe a desenvolver respostas automáticas e, mais importante, a identificar fraquezas no próprio plano de resposta.
Cada incidente de treinamento deve ser acompanhado por uma avaliação da eficácia do plano e um processo subsequente de correção, conforme necessário.
O espaço Web3 é dinâmico e está em evolução, com novas abordagens e tecnologias substituindo versões desatualizadas. Essa evolução das soluções também deve ser considerada ao revisar e atualizar o Plano de Resposta a Incidentes.
Modelagem de Ameaças e Auditorias
Para construir um Plano de Resposta a Incidentes de alta qualidade, ele deve ser precedido por atividades como a Modelagem de Ameaças e auditorias de segurança completas de contratos inteligentes e infraestrutura.
A Modelagem de Ameaças envolve o inventário de elementos críticos do protocolo: contratos inteligentes, oráculos, carteiras multifuncionais, módulos de governança e elementos off-chain. A construção de um mapa de valor desses elementos e suas interdependências permite que os membros da equipe avaliem a arquitetura do protocolo sob uma perspectiva de segurança. O documento de Modelagem de Ameaças resultante serve como base para a construção do Plano de Resposta a Incidentes.
Auditorias de segurança abrangentes, verificação formal e análise de risco econômico são projetadas para aumentar a segurança do protocolo, detectando vulnerabilidades no código e na lógica do protocolo antes da implantação em um ambiente real. Um trabalho minucioso nas fases iniciais reduz significativamente a probabilidade de uma crise.
Monitoramento
A configuração de um sistema de monitoramento e detecção precoce de ameaças é um pré-requisito necessário para a construção de um Plano de Resposta a Incidentes eficaz.
O sistema de monitoramento foi projetado para detectar incidentes o mais cedo possível e alertar a equipe sobre o que está acontecendo. Uma resposta bem-sucedida a um incidente começa precisamente com um alarme emitido pelo sistema de monitoramento. Se você souber de um ataque pela mídia ou redes sociais, já estará em sérios apuros.
Além de alertar a equipe, o sistema de monitoramento desempenha outra função de importância crítica: ações automáticas de contenção. Nesse contexto, contenção refere-se a ações executadas automaticamente em resposta a sinais do sistema de monitoramento. Por exemplo, pausar contratos inteligentes ao detectar um comportamento inequivocamente identificado como preparação para um ataque.
A construção de um sistema de detecção precoce e resposta automatizada a ameaças exige um esforço considerável, mas tal sistema é crítico em situações de crise. Para uma abordagem holística da segurança do protocolo, utilize o Roteiro de Segurança Web3.
NIST e SANS
Em cibersegurança, existem estruturas estabelecidas de resposta a incidentes: NIST (Instituto Nacional de Padrões e Tecnologia dos EUA) e SANS (Instituto SysAdmin, Auditoria, Rede e Segurança). Eles compartilham uma essência comum e diferem apenas em detalhes. A combinação dessas duas estruturas resulta em um modelo de 6 estágios:
Preparação
Detecção
Contenção
Erradicação
Recuperação
Pós-Análise
Como estamos operando em um ambiente descentralizado, as abordagens da Web2 devem ser adaptadas às realidades da Web3.
Em nosso caso, a fase de Preparação é implementada fora do Plano de Resposta a Incidentes durante a Modelagem de Ameaças e auditorias de segurança abrangentes.
A Detecção é realizada por meio de iniciativas de monitoramento para detecção precoce de ameaças e resposta automatizada.
A Contenção, a Erradicação e a Recuperação são implementadas na seção "Playbook" do Plano de Resposta a Incidentes.
A Pós-Análise é realizada como uma atividade para preparar o relatório de "Lições Aprendidas".
Conclusão
Um Plano de Resposta a Incidentes na Web3 é fundamentalmente um ato de esforço proativo. O desenvolvimento do plano não se trata apenas de escrever um documento, é uma iniciativa contínua que abrange muitas etapas do desenvolvimento do protocolo – desde a avaliação da lógica de negócios e a adição de salvaguardas à arquitetura de contratos inteligentes até a configuração de um sistema de monitoramento, resposta automatizada e treinamento contínuo da equipe.